Sílvio Santos vem aí

Reza a lenda que nenhum horário bate a noite domingo em matéria de suicídios. A explicação seria bastante simples: o sujeito está lá, amedrontado e desanimado ante a perspectiva de mais uma semana de trabalho, chefes desagradáveis, pagamento ruim, contas pra pagar, enfim, o labirinto brutal e banal da vida cotidiana. E então decide que não quer mais saber daquilo, que seria muito mais confortável desistir. E desiste. Segundo os que apresentam estes fatos, a musiquinha do Fantástico, ao ribombar pelos falantes da TV, funcionaria como as próprias trombetas do apocalipse, o momento último onde o desespero bate tão forte que se torna insuportável.

Se a lenda é mesmo lenda ou apenas a manifestação dos fatos, eu não sei dizer. A história parece plausível. Se em ano de Copa do Mundo o índice de suicídios cai sensivelmente –e isso, sim, é uma estatística – porque não poderia o Fantástico ser a verdadeira antítese disso, isto é, um programa de TV capaz de impulsionar a taxa de suicídios? Não parece exatamente absurdo.

Algumas dúvidas me ocorrem neste contexto. Se o sujeito estivesse assistindo ao SBT, o suicídio poderia ser evitado? Ou o jingle “Sílvio Santos vem aí” teria o mesmo efeito? Essa letra tem até mesmo um quê de profético: a chegada de Sílvio Santos, tal e qual a da segunda feira –e de tudo de ruim que ela carrega consigo -, é inevitável. Sílvio Santos e a segunda feira vem aí, ole-ole-olá. Contudo, não consta que esta música, mesmo que mais fatalista que o inofensivo tema instrumental do Fantástico, seja combustível para suicidas em potencial.

E o que aconteceria ao suicida domingueiro se estivesse sintonizado num debate esportivo? As enfadonhas discussões sobre se foi pênalti ou não foi pênalti matariam o sujeito de tédio, evitando que a providência drástica do suicídio fosse tomada? Sendo assim, imaginem quantas almas Chico Lang e companhia andaram salvando nos últimos 40 anos. E se fosse o Teste de Fidelidade? Não há registros confiáveis, nem relatos de populares, mas seria bastante interessante se algum pesquisador se debruçasse sobre o assunto.

E uma derradeira pergunta: o que aconteceria caso, logo em seguida ao tema do Fantástico, entrasse um Plantão da Globo, com aquela vinheta considerada universalmente assustadora? Seria o fim da humanidade que conhecemos? Teríamos caos nas ruas, pessoas enlouquecendo aos milhões, a civilização sendo consumida em fogo e chamas?

Por sorte a Globo não usa mais a terrível vinheta. Por sorte.

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